28 abril 2015
Carl Djerassi. O homem que mudou a maneira de viver das mulheres Fonte
O "pai" da pílula tinha uma enorme paixão pela pintura de Paul Klee e doou parte da sua coleçãoao Museu de Arte Moderna de São Francisco. Como químico, mudou a vida de muita gente, em especial a das mulheres, com a "invenção" da pílula.
Texto de: Manuela
Goucha Soares |
Nasceu em Viena [Áustria] em 1923, filho de um dermatologista e de uma dentista,
mas passou os primeiros anos da infância na capital da Bulgária, terra do seu pai.
Os pais divorciaram-se em 1929, mas o nazismo obrigou-os a recasarem-se nove
anos mais tarde. Não que Hitler tenha exigido o matrimônio dos dois médicos judeus,
mas foi a única solução encontrada pelo pai de Carl para que este e a mãe pudessem
chegar à América com um passaporte búlgaro [a Áustria recusou-se a conceder a
cidadania à criança].
Este artífício legal permitiu que mãe e filho aportassem em Nova Iorque no final de
1939. Sem dinheiro no bolso, a vida não foi fácil nos primeiros anos. Inteligente e determinado a prosseguir os estudos, Carl tentou a sorte e apelou ao coração da
primeira-dama dos EUA Eleanor Roosevelt. O jornal britânico "The Telegraph" conta
que o jovem lhe escreveu pouco depois de chegar à América, para lhe dar conta da dificuldades que ele e a sua mãe estavam a viver.
Eleanor deixou-se tocar pela carta e passou o assunto ao Instituto Internacional de
estado do Ohio. Bom aluno, prosseguiu os estudos na Universidade do Wisconsin, e
em 1945, no fim da Guerra, obteve a cidadania americana.
Da importância dos anti-histamínicos à revolução da pílula
Carl Djerassi casou-se três vezes e divorciou-se duas. A terceira mulher morreu
em 2007. Além dos anos dos casamentos, das datas de nascimento dos dois filhos e
do suícidio da filha, há outras datas a reter na vida do investigador químico
Carl Djerassi.
Em 1949, dez anos depois de ter chegado aos EUA na companhia da mãe, estava
a dirigir um centro de pesquisa na cidade do México, onde desenvolveu estudos
sobre os efeitos da cortisona e o sua utilização na hipotética regulação do ciclo
menstrual e no tratamento do cancro.
No ano seguinte, em 1952, tornou-se professor de química na Universidade de
Wayne, em Detroit. Em 1959, começou a dar aulas em Stanford, na Califórnia,
e comprou uma propriedade onde construiu uma casa para a sua coleção de arte:
Paul Klee era o pintor preferido.
Em 1968, fundou a Zoecon, uma empresa que estudava as hormonas dos insetos
para criar pesticidas não tóxicos. E em 1979, depois da morte da filha, transformou
a casa onde guardava a sua coleção de arte numa residência artística onde acolhia
escritores, dramaturgos, coreógrafos, músicos e artistas plásticos.
Esteve em Portugal em outubro de 2011, altura em que a Universidade do Porto
distinguiu o químico Carl com o título Doutor Honoris Causa. Algum tempo antes,
o grupo de teatro Seiva Trupe levou à cena a peça "Oxigênio" do Carl dramaturgo.
Definia-se como um "polígamo intelectual", como escreve o jornal britânico
"The Telegraph", porque repartia a sua criatividade pelo romance, poesia, mecenato,
sem nunca esquecer a investigação e divulgação científica. Morreu em São Francisco,
aos 91 anos, no fim de semana.
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